Crédito da imagem: Reinaldo Marques/TV Globo
Francisco De Laurentiis*
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Enquanto boa parte dos times brasileiros ganha cada vez mais dinheiro com patrocínios e tira jogadores da Europa, como Seedorf, Forlán e Alexandre Pato, a audiência do futebol na TV aberta segue caindo a ano a ano. Em 2010, por exemplo, a Globo marcava média de 21 pontos** no Ibope com a bola rolando. Já neste ano, o número é 17,4 – uma queda de 17,1% nos últimos três anos.
Vários motivos são dados como explicação sobre o porquê da redução da audiência, como o aumento das opções de lazer e o baixo nível técnico das partidas. Mas, para quem está diretamente ligado às transmissões, o problema é outro.
Segundo Walter Casagrande, principal comentarista da TV Globo, o excesso de jogos sem importância e a falta de partidas decisivas é o principal fator que vêm afastando os telespectadores das rodadas do futebol. Em entrevista, Casão disse que apenas duelos mais atrativos dão audiência, e também aprovou uma das medidas adotadas pela emissora para tentar reerguer a audiência.
“Eu faço muitos jogos, e vejo que, nas grandes partidas, a audiência é bem alta. Acho que o excesso de jogos prejudica demais… Toda hora passa muito jogo, futebol vira uma coisa corriqueira. Antigamente, passava muito menos, cada jogo era uma atração”, diz o comentarista, que, recentemente, lançou sua autobiografia.
“Hoje, as pessoas só se interessam quando o jogo é legal, decisivo. Jogo de Libertadores, por exemplo, dá audiência altíssima. Finais também sempre vão bem (na audiência). Até os jogos da seleção, mesmo sem serem por campeonatos oficiais, continuam dando bons números. Quando o evento é bom, todo mundo quer ver. Quando o evento é ‘mais ou menos’, as pessoas pensam duas vezes”, completa
Casagrande, aliás, diz que não é apenas a audiência do futebol que está caindo na TV: “O Ibope televisivo está em declínio em todas as áreas. Hoje, as pessoas tem internet e um monte de outras coisas para passar o tempo. Não é só o futebol que está caindo. Tudo relacionado a televisão está experimentando queda”, afirma.
Os dois jogos de melhor audiência naGlobo este ano tiveram o Corinthians e a Libertadores como protagonistas: contra Tijuana (México) e Millonarios (Colômbia), a emissora marcou 24 pontos. Já o pior Ibope veio do Paulistão, competição criticada pela extensão: Guarani x São Paulo marcou 8 pontos.
Já na Bandeirantes, que não transmite a competição continental, a melhor audiência veio em um clássico paulista: São Paulo 1 x 2 Corinthians, no final de março, deu 8 pontos. A pior foi em um jogo da Liga dos Campeões da Europa: Paris Saint-Germain (França) x Valencia (Espanha), pelas oitavas de final, marcou 3,5 no Ibope.
Comentarista aprova convidados especiais
Uma das estratégias usadas pela Globo para tentar subir seus números do futebol foi repetir uma ideia do final dos anos 1990: levar convidados especiais, como músicos e atores, para comentar as partidas com Galvão Bueno, Cléber Machado e cia.
No fim da década passada, nomes como os dos pagodeiros Netinho de Paula e Alexandre Pires foram os atrativos. Já neste ano, personalidades como a cantora Luiza Possi, o ator Aílton Graça e o técnico de vôlei José Roberto Guimarães já participaram de jogos em São Paulo, tanto no Estadual quanto na Libertadores. No Rio de Janeiro, vários outros artistas famosos também deu seus palpites.
Casagrande aprova a estratégia e diz que os convidados, mesmo não sendo na maioria das vezes ex-jogadores ou técnicos, acrescentam muito às discussões futebolísticas.
“É uma coisa diferente. Pela queda da audiência, as pessoas têm que inventar outras maneiras de chamar a atenção. Acho legal quando trazem cantores, porque eu gosto muito de música, mas atores e ex-jogadores também são muito legais. Quando veio o Zé Maria [comentar Corinthians x Millonarios] foi sensacional”, lembrou Casão.
“Na maioria das vezes, eles deixam a transmissão muito rica. Quando o cara acompanha e entende bastante de futebol, fica muito legal. Por exemplo, o [ator] Aílton Graça é corintiano doente, entende tudo do Corinthians, então, ele sabe bem do que está falando. Essa transmissão ficou muito legal. Às vezes até nem acrescenta nada na discussão futebolística, mas o fato da pessoa de outra área dar a opinião dele também agrega à transmissão”, opina o comentarista da TV Globo.
**Cada ponto equivale a 58 mil domicílios sintonizados na Grande São Paulo
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