Relógio

domingo, 30 de junho de 2013

Jovens adotam produção de festas como segundo emprego

Promover festas pode não ser interessante do ponto de vista do negócio em si: dá muito trabalho e não gera grandes ganhos financeiros imediatos. Mas jovens de São Paulo que encaram o desafio dizem que os benefícios vão além dos monetários.
A fama na noite pode se converter em convites para tocar em casas noturnas de outros Estados ouoportunidades para dar palestras ou consultorias sobre o público que frequenta os eventos.

O produtor Emmanuel Souto Vilar, 31, criador da festa Javali, que acontece desde março de 2012 na capital paulista, por exemplo, foi chamado para ministrar palestras para a Ambev e a Coca-Cola sobre as características de consumo dos clientes e empreendedorismo.
A balada, que acontece em casarões alugados da cidade, tem um público médio de 1.200 pagantes. A festa é frequentada por pessoas na faixa de 25 a 40 anos que gostam de ouvir hits de artistas como Cazuza e Madonna.
Ao contrário de boa parte dos produtores independentes, Vilar não tem outros empregos. Ele não revela quanto ganha em cada edição. "Dá para trabalhar só com isso, mas só se você for inovador e perceber o que os consumidores querem."
Emmanuel Souto Vilar faz a festa Javali em São Paulo
Emmanuel Souto Vilar faz a festa Javali em São Paulo

ESQUENTA
Para ter lucro real com a atividade, é preciso tempo para conseguir formar um público. E essa popularidade pode ser efêmera.
"Não dá para viver de festa. Esse mercado é muito volátil e sempre surgem novas opções
para que as pessoas curtam a noite em locais diferentes", diz o estudante de publicidade Pedro Lindenberg, 21, um dos organizadores da festa Republika, que reuniu mil pessoas na última
edição, no começo deste mês.
Quem acha que tem talento para o negócio precisa tomar alguns cuidados. No início,
 o indicado é trabalhar com casas noturnas ou bares que estão acostumados a
receber gente nova no ramo. É usual que os donos dos estabelecimentos peçam
garantias financeiras, como cheques-caução, que cubram prejuízos.
O lucro nesse caso fica em torno do R$ 1.500 a R$ 2.000 por ocasião, entre os
 eventos consultados pela Folha - todas recebem ao menos 500 pessoas,
em edições mensais.
Isso acontece porque o pagamento é feito, na maior parte das vezes,
com uma comissão de acordo com o número de pagantes.
No Lab Club, na rua Augusta (centro de São Paulo), o promotor não tem que
deixar cheque-caução. É o local que faz o investimento: contudo, é preciso que
o interessado tenha um bom projeto. "Somos acostumados a receber produtores
 independentes. Mas a ideia tem que ser criativa e ter potencial para trazer pessoas",
 conta Denis Hadler, sócio do local.
O dono da festa fica com cerca de 30% da bilheteria ou 8% do faturamento da noite.
Quem aluga um salão tem mais trabalho, mas consegue faturar com as bebidas
que serão vendidas e as entradas.
No entanto, é preciso lembrar que se gasta mais porque é preciso
contratar diferentes profissionais para a limpeza, recepção e
atendimento. Para se ter uma ideia, na festa Javali
trabalham 47 pessoas em uma noite.
Pedro Lindenberg (à esq) e William Pimenta organizam a festa Republika, que acontece no Cine Joia
Pedro Lindenberg (à esq) e William Pimenta organizam a festa Republika, que acontece no Cine Joia

EVITE A RESSACA
Os organizadores precisam verificar se o imóvel tem alvarás de
funcionamento, autorização da prefeitura e laudo dos bombeiros em dia.
Saídas de emergência e extintores precisam ser avaliados.
A segurança dos convidados precisa ser garantida. "Não existe uma lei que
obriga o produtor a ter seguranças na festa, no entanto o Código do
Defesa Consumidor prevê que o responsável precisa proporcionar um ambiente
seguro para as pessoas", afirma o advogado Thiago Mahfuz Vezzi.
"Subentende-se, assim, que se deve contratar uma equipe especializada."
Se for necessário escolher uma empresa para terceirizar o serviço, segundo
o advogado, é indicado verificar há quanto tempo ela atua no mercado, para quem
 já presta serviço e buscar referências de outros clientes.
"O organizador será responsabilizado por qualquer problema que
acontecer. É preciso se resguardar", diz.
O planejamento é o mais importante,
 independentemente
do local, lembra
Bianca Freitas, 31, sócia da empresa Enjoy.e, que trabalha
com produção de eventos.
O novato precisa sair para conhecer o máximo possível do que
 já está sendo feito no mercado.
"Tem que haver um conceito claro: a festa deve ter inspiração em algum tema,
história ou fato que a justifique", indica Freitas. Também é preciso analisar os
hábitos do seu público-alvo: os dias em que as pessoas costumam sair à noite, por exemplo.
Um equívoco nesse sentido fez o produtor Guto Magalhães, 25, a ter uma noite ruim.
Acostumado a fazer festas às quartas-feiras e aos sábados, ele programou um evento
para um domingo, no início da noite.
"Esperava 300 pessoas, mas só foram 150. Quando acontece esse tipo de coisa é preciso
parar e tentar entender o que aconteceu", conta Magalhães, responsável pela festa A$$.
"Percebi que havia sido um erro ter escolhido o domingo porque é um dia que a
maioria das pessoas usa para descansar", avalia.
Hoje, existem ferramentas para organizar a venda de ingressos. Sites como
Eventick, Eventioz e EhTicket permitem comercializar entradas, que podem ser
pagas por boletos ou cartão de crédito pelos convidados. As plataformas ganham
porcentagem em cima do valor de cada venda.


Bianca Freitas, sócia da Enjoy.e, no Beco em festa produzida com ajuda dela
Bianca Freitas, sócia da Enjoy.e, no Beco em festa produzida com ajuda dela


BRILHE MUITO
Grande parte do sucesso do evento depende da divulgação. O
Facebook é a ferramenta mais eficiente para isso, de acordo com
profissionais do ramo.
Denis Romani, 30, da Tiger Robocop, inspirada nos anos 1990,
explica que investe na criação de conteúdo para a "fan page" da
balada. Ele e os sócios pesquisam sobre curiosidades e músicas
da época e as postam diariamente na rede social.
"Nós nos preocupamos em proporcionar informação, porque
sabemos que um evento é sempre uma loteria. Não há uma
fórmula para prever quantas pessoas irão comparecer", explica.
O organizador da festa Odara, Rodrigo Faria, 30, usa
estratégia semelhante. Publica curiosidades sobre música
popular brasileira e aproveita para fazer promoções. O produtor
de cinema assume que não ganha muito dinheiro. Em cada
ocasião investe cerca de R$ 2.000 e não ganha mais do que isso.
"O retorno do trabalho veio por meio de convites para levar a
Odara para outros lugares. Neste ano, vamos para a Argentina."

Denis Romani, jornalista e DJ, produz uma festa anos 1990 chamada Tiger Robocop


ASPECTOS LEGAIS
Os aspirantes a produtor de festas precisam ter atenção aos aspectos jurídicos.
Mesmo que o evento aconteça em um bar ou casa noturna, o organizador poderá
 ser responsabilizado por problemas com a qualidade de bebidas, brigas ou roubos.
De acordo com Thiago Mahfuz Vezzi, especialista em direito do consumidor, o
convidado poderá processar quem considerar que é o responsável por um
dano causado. Para se resguardar, o profissional indica que se faça um contrato
com o proprietário do estabelecimento para determinar os
procedimentos em caso de problemas.
"Caso o produtor seja processado, terá como
cobrar o dono do bar depois."
Ao fazer uma festa em um local alugado, a
 responsabilidade passa ser inteira
de quem estiver no comando. Milton Flávio
Lautenschläger, mestre
em direito civil, recomenda que os jovens peçam auxílio
para advogados
na hora de elaborar o contrato.
"São muitos os documentos que precisam ser verificados.
É difícil para um l
eigo saber todos os alvarás e licenças obrigatórias.
" Caso o profissional queira
continuar a fazer eventos, é preciso que ele abra uma
empresa individual.
"É uma atividade empresarial e quem não paga impostos está sujeito a
 penalidades tributárias", explica Lautenschläger.
editoria de arte
















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